Certamente, tratar de religião não é algo simples, quando não se é um clérigo. Por outro lado, os anos de experiência em negócios com os árabes me mostraram que o conhecimento e o respeito à religião islâmica pode facilitar e muito os negócios, não só com árabes, mas com todas as nações majoritariamente muçulmanas.
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Antes de falar de Islã, é importante entendermos que nem todos os árabes são muçulmanos e tampouco todos os muçulmanos são árabes. Há minorias principalmente cristãs espalhadas pelos países árabes. No Líbano, Egito, Síria e Palestina há considerável parcela da população que segue o cristianismo. Muitos dos árabes cristãos fazem parte dos mais de 12 milhões de árabes e descendentes que estão aqui no Brasil. Por outro lado, há, no mundo, uma imensa população não árabe também seguidora do Islã. Estão principalmente na Ásia Central, Indonésia e África e uma considerável minoria na Índia. Mas há muçulmanos árabes e não árabes em praticamente qualquer lugar do mundo até no Brasil. Estamos falando de um mercado cuja população é de mais de 1,6 bilhão de pessoas, uma importante parcela da população mundial.
Por outro lado surge uma questão: O que religião tem a ver com negócios? Se você se fez esta pergunta, está absolutamente correta, mas somente a partir de uma maneira brasileira e depois ocidental de ver o mundo. Se estivéssemos falando de uma receita, talvez a quantidade do ingrediente “religião” que colocamos em diversos assuntos do nosso quotidiano tende a ser maior nos países islâmicos. O Islã, muitas vezes, vai além do que é uma simples religião. Ele influencia e permeia assuntos de direito, conduta, regulamentação e tem impacto direto na cultura e nos negócios. Conhecer o legado do profeta Maomé (SWAS)* é importantíssimo antes de iniciar as tratativas de negócios com este mercado gigantesco.
Mas se por um lado o Islã tem grande importância e impacto nos negócios, por outro, noto que ainda há certo desconhecimento de nossa parte em relação a esta religião que influencia grande parcela da humanidade. Pessoalmente, meu interesse pelo Islã, foi o que me levou a trabalhar com os árabes e desenvolver negócios com eles. O que mais me surpreendeu não foram as diferenças, mas as semelhanças existentes entre o que os muçulmanos creem e o que a maior parte dos brasileiros crê. Notei também que há alguns mitos e distorções na maneira como interpretamos o islamismo. Eis alguns pontos a serem esclarecidos:
Os tópicos mencionados nos mostram que os muçulmanos têm muitos pontos em comum com os cristãos. As semelhanças são muitas, e, além disto, os cristão, assim como os judeus, são aceitos no Islã como povos que já haviam recebido as escrituras sagradas de Deus através da Bíblia. Com grande parte da história em comum, as peculiaridades do Islã, para os não muçulmanos, parecem estar mais ligadas aos pilares e às tradições islâmicas.
São os pilares do Islã:
1) Shahada: É a declaração de que “Não há outra divindade além de Deus e que Maomé (SWAS) é seu profeta”. Para se converter ao Islã, a pessoa deve recitar esta frase com sinceridade.
2) Salat: São as cinco orações realizadas ao longo do dia pelo muçulmano. Acontecem ao alvorecer, depois do meio-dia, entre o meio-dia e o pôr-do-sol, logo após o pôr-do-sol e aproximadamente uma hora após o pôr-do-sol. Em alguns países árabes, este ritual é seguido à risca. Reuniões de negócios podem ser interrompidas e os horários de rezas são geralmente evitados para realização de encontros. Devemos lembrar: Deus é prioridade!
3) O Jejum: Durante o mês sagrado de Ramadã, os muçulmanos praticam jejum durante o dia. Não devem comer ou beber. Também devem se abster de relações sexuais. Crianças, idosos e mulheres grávidas são dispensados de fazer o jejum. À noite costumam acontecer festividades com muita fartura e celebrações. Embora seja um período bastante atraente para se conhecer, não é recomendado desenvolver agendas de reuniões de negócio nestes períodos. As jornadas de trabalho costumam ser diferentes, as pessoas estão com grande parte de suas mentes voltadas à espiritualidade.
4) Zakat: Esta é a caridade no Islã. O muçulmano deve destinar 2,5% de seus rendimentos à caridade. Muitas vezes esta regra pode ser aplicada a negócios e fundos de investimentos Islâmicos.
5) Hajj: É a peregrinação. Todo muçulmano com condições financeiras e de saúde devem peregrinar à Meca ao menos uma vez na vida no mês de Dhu Al-Hija.
Halal x Haram
Outro aspecto importante sobre o Islã para mundo dos negócios é o que podemos chamar de Halal e Haram. De maneira geral, Halal é tudo o que é considerado lícito ou permitido segundo o a religião ou a lei. Haram, ao contrário, é tudo o que é proibido. A forma que a legislação Islâmica, a Sharia, é aplicada, varia de país para país e leva em consideração os costumes e a cultura local.
Entre os destaques, a carne de porco, cachorro, predadores, pestes e álcool são considerados ilícitos ao consumo humano, embora alguns países árabes produzam vinho e outras bebidas. É importante lembrar as minorias cristãs, que podem estar envolvidas com a produção e consumo de itens que no Islã podem ser considerados Haram. Deve-se ter atenção ao exportar estes itens aos países árabes.
Com relação ao consumo de carne, nenhum homem está autorizado a tirar uma vida se não o fizer em nome de Deus. Isto tem impacto no procedimento para abate de animais cuja carne será destinada ao consumo humano:
O abate é inspecionado por mulçumanos que são responsáveis pelo procedimento. Como o Brasil é um grande exportador de carne, grande parte das empresas já estão preparadas para este procedimento.
Quando o assunto é Islã, há realmente MUITO a se conhecer e aprender. É uma religião de extrema importância para a humanidade e para os negócios. Se aprofundar, pode resultar em bons resultados para os negócios e desenvolvimento intelectual de cada um. Deixo alguns links de referência:
Câmara de Comércio Árabe-Brasileira: www.ccab.org.br
Centro de Estudos e Divulgação do Islã: www.islam.org.br
Federação das Associações Islâmicas do Brasil: www.fambras.org.br